em 29 de agosto aconteceu a quinta edição do slam das minas, na ong jovem de expressão (ceilândia norte). em celebração do dia da visibilidade lésbica, foi uma versão especial slam das sapas – a maior parte das poetisas que participaram na batalha era lésbica ou bissexual.
as vencedoras foram bia maria, najara thalita e jaynah cristine, todas da ceilândia!!, que tão aí na foto aí embaixo junto da leticia lima, que participou da batalha também. outra presença bonita foi da poetisa e MC nathália falcão.
dois dos poemas que foram falados lá naquela noite:
Já empoderou uma negra hoje?
Nathália Falcão
É o dia da mulher negra, que tal falar da solidão delas no qual VC se nega?
Eu vi VC militar e gritar que quer respeito e igualdade, mas aquela mulher de nariz largo e pele mais escura só serve pra amizade.
Aquela mulher negra sempre só serviu de mediadora, pra VC negro se encantar pela pele opressora.
Aquela mulher negra que te seduziu quando não queria algo serio, aquela que VC só queria pro carnal e escondia, tudo mistério!
Ei você do movimento! Quando te fez chegar as contas de que aquela mulher negra tem sentimentos?
Seu ego esta ferido agora, neh? Não gosta de mulher negra casada com branco, pois tem que respeitar o afrocentrado, é?
E se a única saída desta solidão é se relacionar com o opressor só pra achar um pouco mais de amor? Levanta a bandeira de um relacionamento de igualdade e se o mesmo não existir irmandade?
Respeite a solidão! Respeite aquelas que VC nao tem na mao!
E se as negras se identificam com outras negras… Mulher não esta disponível, entao respeita!
Gosta de negros no poder? Mas fica encabulado da “sua” mulher ganhar mais que você!
Me recuso a acreditar, que seu foco é outro e pelas minas tbm não pensa em lutar…
Realmente eu não posso! Ter que lutar por um espaço que devia ser nosso…
Homem preto… Já reconheceu o valor de uma mulher negra hoje?
Mesmo sendo você (Najara Thalita)
Já dizia o ditado
“Cuidado com a mão que afaga,
Pois é a mesma que bate.”
Ela dizia que me amava,
E me sorria com carinho.
Na fome, cozinhava.
E tentava me agradar.
Me mostrou o céu.
Me ensinou a nadar.
Dizia: não fique parada,
tens muito a sonhar.
Cumplicidade.
Mesmo em outra cidade,
Larguei tudo pra a encontrar.
Caminhar ao seu lado.
Afagar sua dor.
Lhe esquentar no frio
E lhe dizer que vai passar.
Era uma mulher de pele preta.
Filha de Iansã e da Força Negra.
Como toda nossa história,
Esteve na labuta desde cedo.
Lutava, batia e rebatia.
No argumento ela sabia desequilibrar
branco que mexia no seu congá.
Trazia as dores para casa,
E eu lhe passava o acalento,
chá e erva,
e muito amor para curar.
Ela tinha uma gana pelo mundo
que queria até mexer no Tempo.
Revirava o meu passado
na tentativa de ajudar.
Só que eu me calava.
Reviver o que tá marcado, só me faz piorar.
Ela não aceitava o meu presente
de pais que não saberiam
encarar
filha sapa fora do armário
“para fora de casa já!”
Ela queria acelerar o ritmo
de uma vida futura inexistente.
E comecei a lhe dizer
“Nega, sou eu.”
Mas nada parecia a relembrar.
Gritava e xingava.
Tive medo.
Na briga,
a mão que bate na parede com fúria agora
poderia ser a mão na minha cara a qualquer hora.
E pensei. Justifiquei.
Ela está apenas brava.
É apenas a personalidade dela.
É o orixá.
Não. É o inferno astral.
Também sou mulher.
Também sou preta.
E sou sua companheira.
Nega, posso aceitar que a branquitude me ache apenas isso:
uma lésbica negra;
uma categoria do feminismo interseccional
ou objeto de estudo de uma pesquisa social.
Mas não posso aceitar que você também determine
o meu próprio comportamento.
Não converso com quem me ameaça.
Mesmo sendo você.
De violência doméstica dou um basta.